por Tathy Zimmermann
Depois desse período meditativo e
de reinícios que a Páscoa deveria ser, ou após todos os chocolates, o mês de
abril chegou ao fim e com ele, nossa homenagem à personalidade do mês.
Seu aniversário foi no começo do
mês e o escolhi por ser uma grande leitora de seus poemas (mesmo não gostando
muito de poesia). O convidado para soprar as velinhas é nada mais nada menos do
que o dândi, o flâneur, o poeta boêmio: Baudelaire.
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por Georges Rochegrosse e Eugène Decisy |
Charles-Pierre Baudelaire nasceu
em Paris, no dia 9 de abril de 1821. Sua infância e adolescência foram
atormentadas em diversas desavenças familiares que seriam o marco de sua
rebeldia contra as convenções sociais e contra a frivolidade literária,
sobretudo na área da poesia.
Aos 16 anos, Baudelaire ficou
órfão de pai, e o ódio nutrido contra o segundo marido de sua mãe, o general
Aupick, fez com que abandonasse os estudos em Lyon para fugir para a Índia. Ao
retornar a França, em 1848, o jovem participou ativamente do movimento que
ficou conhecido como Primavera dos Povos, em Paris os revoltosos conseguiram
depor o rei Luís Filipe e instalar uma república.
Após isso, Baudelaire instalou-se
em Paris, frequentando os salões aristocráticos e artísticos, levando uma vida
boêmia e gastando suas posses. Sua vida foi tão repleta de gastos e dívidas que
ele foi obrigado judicialmente pela sua família a aceitar um tutor para cuidar
de seus bens. Acabou envolvendo-se romanticamente com a cortesã Apollonie
Sabatier, e com as atrizes Marie Daubrun e Jeanne Duval, uma mulata por quem
era apaixonado e para quem dedicou o ciclo de poemas “Vênus Negra”.
Em 1847, lançou “La Fanfarlo”, seu único romance, que é
na realidade uma novela autobiográfica. Passou dez anos publicando poemas em
jornais e revistas até que, em 1857, publicou o famoso e controverso “As Flores
do Mal” (Les Fleurs du Mal). Esta
obra rendeu-lhe um processo pelo tribunal correcional do Sena, uma multa por
atentar à moral e aos bons costumes, além de ser obrigado a retirar seis poemas
(poesies damnées) do volume original,
sendo publicado na íntegra apenas em edições póstumas, em 1911. Todos os demais
envolvidos com o livro foram processados por obscenidade e blasfêmia.
Tanto As Flores do Mal como Pequenos
Poemas em Prosa (Petits Poèmes en
Prose, que depois seria intitulado Lê
Spleen de Paris) foram publicados em fascículos ou em partes em diversas
revistas desde 1861, e são considerados importantes por introduzir novos
elementos na linguagem poética, abordando reflexões existenciais, fundindo os
opostos como o sublime e o grotesco, e explorando as analogias ocultas do
universo.
De 1852 a 1865, Baudelaire
traduziu os textos do poeta e contista norte-americano Edgar Allan Poe, de quem
se tornou um defensor entusiasmado e grande leitor já no final da década de
1840. Também escreveu ensaios sobre literatura e crítica de arte. Ele foi alvo
da hostilidade da imprensa, que o julgava libertino, promíscuo, obsceno e um
subproduto degenerado do romantismo. Porém, sua carreira foi admirada e
elogiada por Vitor Hugo, Gustave Flaubert, Arthur Rimbaud e Paul Verlaine.
Considerado um dos maiores poetas
franceses de todos os tempos, seus poemas são densos, profundos, melancólicos,
críticos, confessionais, ácidos, duros e até cruéis. Alguns o consideram um
antecessor do parnasianismo, ou um romântico exacerbado. Pioneiro da linguagem
moderna, impôs à realidade uma submissão lírica. Seu talento e genialidade só
foram devidamente reconhecidos após sua morte.
Aos 46 anos de idade, Baudelaire
morreu nos braços de sua mãe, após uma vida desregrada e repleta de
tribulações. Alguns dizem que ele morreu de uma doença nervosa. Sífilis? Vício
em haxixe? Bebedeiras? O que se sabe é que o autor influenciou direta ou
indiretamente a poesia moderna e tornou-se um ícone da literatura.
Um trecho do poema *Spleen XV,
meu favorito, para você conhecer um pouquinho ou para se deleitar, caso já
conheça.
Sou como o pobre rei de algum país chuvoso,
Rico, mas incapaz, moço, e no entanto idoso.
Que as lisonjas dos preceptores desprezando,
Vai com seus animais, com seus cães se enfadando.
Nada o pode alegrar, nem caça, nem falcão,
Nem o povo morrendo em frente do balcão.
Do jogral favorito a grotesca balada
Não mais lhe desenruga a fronte acabrunhada
* Em francês, o termo spleen
representa o estado de tristeza pensativa ou melancolia.
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