Nome Original: Longbourn
Autora: Jo Baker
Ano: 2013 (publicação original)
Editora: Companhia das Letras
Autora: Jo Baker
Ano: 2013 (publicação original)
Editora: Companhia das Letras
“Sob o comando da senhora Hill, governanta e cozinheira de Longbourn — casa onde vive a família Bennet (sim, aqueles Bennet) —, trabalham Sarah e Polly, duas jovens trazidas de um orfanato quando ainda eram crianças para servirem a casa, e o idoso senhor Hill, um senhor idoso e esposo da governanta que trabalha como mordomo da família Bennet, servindo a mesa e dividindo a administração da casa com sua esposa. Juntos, os quatro formam um pequeno exército de empregados que labuta dezoito horas por dia para que a família Bennet goze do máximo conforto possível [...] A vida destes quatro criados começa a mudar com a chegada de James Smith, um jovem lacaio recém-contratado, que irá movimentar o andar de baixo da casa, revelando antigas tensões entre empregados e patrões” - Resumo com adaptações.
Ao ler
esse breve resumo, os leitores de Jane Austen perceberão logo que estamos
falando de um lugar e de personagens conhecidos. E não é apenas impressão! A
autora de Sombras de Longbourn se
inspirou na obra Orgulho e Preconceito.
Jo Baker é uma admiradora da romancista inglesa e sempre se perguntou como
seria poissível que as quatro irmãs Bennet estivessem sempre impecáveis para os
bailes, como seria a vida em sua casa, ou ainda quem eram as pessoas que passam
desapercebidas na obra de Austin, mas que são imprescindíveis para os
protagonistas, seja servindo a mesa ou engomando as inúmeras saias das moças.
Em uma época na qual não havia máquinas de lavar e os caminhos não possuíam
pavimentação, quem se ocuparia de limpar a lama dos sapatos, lavar os vestidos,
engomar os laços?
Assim, Jo
Baker mergulha nos bastidores da casa dos Bennet, contando a história desses
criados que são "invisíveis". A governanta e cozinheira, sra. Hill,
comanda a casa, organizando o trabalho de duas criadas, Sarah e Polly, jovens
trazidas de um orfanato para trabalhar na casa. O idoso mordomo, marido da
governanta, o sr. Hill, cuida dos animais, serve a mesa, abre a porta aos
visitantes, leva recados. Esse grupo trabalha 18 horas diárias, para que a
família Bennet tenha conforto e possa ser apresentável perante a sociedade. O
pequeno exército de criados dos Bennet vê sua vida mudar quando um jovem rapaz,
James Smith, chega para fazer parte dos empregados da casa e altera a harmonia
no "andar de baixo", trazendo à tona antigas tensões entre patrões e
empregados e revelando histórias que estavam muito bem guardadas.
A autora
fez uma excelente pesquisa sobre o cotidiano das pessoas simples do início do
século XIX. Esses “anônimos” da História não possuem referências históricas,
documentação extensa ou mesmo registros do seu estilo de vida, o que torna a
obra Sombras de Longbourn um
excelente romance de época. O estilo da autora é fluido, agradável e prende o
leitor. Enquanto a obra de Austin termina com o noivado da jovem Elizabeth
Bennet com o Sr. Darcy, o livro de Jo Baker vai além, contando uma possível
continuação da história dos personagens de Austin e contando o que ocorre com
os empregados de Longbourn.
O livro
de Baker é dividido em quatro partes: livro um, dois, três e finis. O primeiro é uma introdução dos
personagens, quem são e o que fazem. O segundo é o desenvolvimento da história,
quando a jovem Sarah se interessa pelo criado dos vizinhos, a família Bingley
(rapaz que se torna marido de Jane Bennet, na obra de Austin) e descobre
sentimentos com relação a James Smith, o misterioso novo criado da casa Bennet.
O livro
três intercala acontecimentos entre os criados e os patrões, já que na obra de
Austin, as irmãs Bennet se envolvem em mil confusões, criadas principalmente
pela senhora Bennet que não vê a hora de arranjar bons casamentos para suas
filhas. Essas confusões no "andar de cima" comovem e atrapalham a
rotina do "andar de baixo". É nessa parte do livro que histórias do
passado vêm à tona e descobrimos coisas inimagináveis. E finalmente, o finis, que é uma espécie de epílogo,
doloroso e triste em alguns aspectos, já que para as pessoas comuns, criados,
não existe fins mágicos ou “felizes para sempre”.
A obra
retrata os personagens de Jane Austin de um ponto de vista novo, como pessoas
que não se importam com seus empregados, que consideram o fato de dar um teto,
comida e um pequeno salário ser o suficiente. As irmãs Bennet, da visão das
criadas, são mimadas, fúteis e inocentes. Porém, Jo Baker em nenhum momento
descaracterizou os personagens de Austin, ela apenas deu um outro ângulo de
suas personalidades. Por exemplo, o charmoso, orgulhoso e altivo sr. Darcy
aparece aos olhos das criadas como alguém que passa como um furacão, sem olhar
para os lados, sem agradecer ao receber sua capa e chapéu, sem sequer perceber
que existe uma pessoa lhe servindo e não uma peça do mobiliário. Mas na época,
essa era a atitude de pessoas educadas refinadamente, pessoas da alta sociedade
para as quais a criadagem estaria sempre feliz em servir. Isso torna a
obra de Jo Baker tão interessante, pois retrata os sentimentos e experiências
dessas pessoas que estão à sombra.
Os
personagens de Baker são profundos e bem definidos. Os que a autora “pescou” da
obra de Jane Austin possuem as mesmas características originais: Jane é uma
inocente tolinha; Lizzy continua com sua postura de quem sabe de tudo, mas que
não vê o que precisa ser visto; Kitty é imatura; Lydia não tem consideração por
ninguém; e Mary é a irmã deixada de lado. A sra. Bennet é frívola e tola, tanto
que quase desgraçou a casamento das filhas com partidos que estavam "muito
acima" das condições sociais das meninas; o sr, Bennet é o típico patrão
do século XIX; e o sr. Collins é o sujeito esquisito que ninguém admira ou entende.
Quanto
aos personagens criados por Baker, eles são intensos, profundos e bem
definidos. Quase dando a sensação de que foram pessoas de verdade, com seus
medos, inseguranças, certezas e dúvidas. Cada um tem uma história de vida, por
trás do que é retratado nas linhas explícitas da narrativa. Sarah é uma jovem
realista, embora cheia de sonhos. Uma moça que sabe bem onde sua condição
social poderá levá-la. Polly é irritante, mas é apenas uma menina órfã, que se
deslumbra com o estilo de vida dos patrões. O sr. Hill nos dá a impressão de
ser um bobalhão, que recebe ordens da esposa e não tem voz ativa para nada. Mas
ao final da história ficamos sabendo de seus motivos para não chamar atenção
sobre si mesmo. A sra. Hill teve uma juventude difícil, por isso ela cuida das
jovens com mão de ferro, sendo até injusta algumas vezes, mas quando ficamos
sabendo de seus motivos, passamos a vê-la de uma maneira diferente. E por fim,
o misterioso James, que tem bons motivos para passar despercebido e para
esconder seu passado.
Alguns
leitores acharam a leitura difícil por contar com palavras rebuscadas. Não li
no original para saber se também está assim. Acredito que o tradutor tentou
deixar um ar de século XIX no uso de seu vocabulário. De uma forma ou outra,
não é nada que atrapalhe o entendimento da narrativa. Palavras pouco usuais têm
o dom de aumentar nosso vocabulário. Gostei da obra, mesmo não sendo meu estilo
de literatura preferida. Vale a pena ler, de preferência se você já leu Orgulho e Preconceito, ou ler Austen
após ler As sombras, sua visão dos
personagens com certeza será outra.
Boa leitura!
2 comentários:
Gostei bastante da resenha. Adicionei na lista para ler
Faz tempo que não leio histórias passadas em séculos passados.
Eu nunca tive problemas com esse tipo de leitura, com 14 anos eu lia e corria para o dicionário ver o significado, se bem que pelo contexto já é possível compreender.
Me interessei pela obra ^^
E parabéns pela resenha.
Beijos
citacoesdeumleitor.blogspot.com.br
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