quarta-feira, 30 de abril de 2014

[Especial] Dia Internacional do Jazz


por Matheus



O dia 30 de abril não é mais um dia qualquer. Em 2011, a Unesco anunciou, juntamente com o pianista Herbie Hancock, o Dia Internacional do Jazz. E nós, do 10Culturando, não poderíamos deixar de fora esta data tão especial para diversos mestres e amantes desse estilo musical. iremos celebrar o Dia Internacional do Jazz.

O Jazz é um estilo musical de extrema riqueza e versatilidade que abrange as mais diversas manifestações culturais. Nasceu das canções dos escravos negros americanos, em seu processo de adaptação à nova cultura, e se consagrou como forma de expressão artística universal. Sua instrumentação, melodia e harmonia são europeias, o ritmo, o fraseado e certos temperos harmônicos derivam da música africana.
A primeira manifestação desse gênero se deu nos Estados Unidos, pelos escravos africanos trazidos para trabalhar como estivadores e que tinham costume de cantar e produzir músicas, as quais ficaram conhecidas como work songs. Essas canções mostravam complexidade rítmica com características polirrítmicas que vemos hoje no jazz.

Dessa variedade de ritmos, o blues é o mais importante das raízes do jazz, inicialmente como expressão vocal. No plano instrumental, o ragtime (estilo pianístico e que constitui uma espécie de versão negra das polcas e valsas importadas da Europa) é outra raiz fundamental.
Originalmente, o blues era um tipo de música folclórica, criada pelos escravos. Surgiu no século XIX, como uma espécie de profanação e individualização do spiritual. Em paralelo à formação do jazz, o blues evoluiu como estilo musical independente.
Além da influência do melódico-harmônico do blues, o Jazz também sofreu a influência da dinâmica rítmica do ragtime, que se mostrou quase o oposto da liberdade e da expressividade do blues - sendo uma música formal e escrita. Contudo, foi ele que deu ao jazz um sentido crucial de melodia, de forma e, provavelmente, de harmonia.
Nova Orleans tornou-se o berço do jazz, por haver muitos negros que habitavam essa região – população formada basicamente de origem africana, descendentes dos escravos trazidos aos EUA. Nas ruas da cidade de Storyville se formaram, também, as primitivas orquestras de jazz – as brass bands, fanfarras de negros e que desfilavam durante o Mardi gras, além de tocar em casamentos e enterros – e as jug bands, grupos que acompanhavam cantores de blues e usavam instrumentos feitos em casa, a partir de garrafas, caixas de charuto e até tábuas de lavar roupa (washboards).

É dessa época que surge o primeiro grande músico de jazz, o lendário cornetista Buddy Bolden, barbeiro de profissão e que morreu em 1931 e não deixou gravações para posteridade. As orquestras de Joe “King” Oliver, Freddie Keppard, Bunk Johnson, “Jelly Roll” Morton e Sidney Bechet foram as primeiras a enunciar os contornos do verdadeiro jazz. 

A partir de 1916, com o fechamento da zona boêmia de Storyville pela Marinha americana, o jazz trocou Nova Orleans por Chicago, onde reinaram músicos como "King" Oliver, Sidney Bechet e Louis Armstrong.

O primeiro disco de jazz foi gravado em 1917, pela Original Dixieland Jazz Band – uma orquestra de brancos. A partir de 1923, “King” Oliver faria as primeiras gravações importantes do chamado estilo Nova Orleans, caracterizado pela improvisação coletiva. 

A improvisação individual no jazz começou com o trompetista, cantor e chefe de orquestra Louis Armstrong, que foi, para muitos, o maior músico de jazz de todos os tempos. Sua técnica prodigiosa transformaria a música coletiva e primitiva de Nova Orleans, voltada para o entretenimento, num modo de expressão universal, que valorizava a interpretação individual e a forma “tema com variação”.

Atualmente ocorre todo ano o New Orleans Jazz & Heritage Festival, um dos mais tradicionais eventos de música, gastronomia e folclore dos Estados Unidos, e que nesta 45ª edição escolheu o Brasil para ser destaque no Cultural Exchange Pavilion (CEP), local que desde 1996 celebra a ancestralidade da cultura de Nova Orleans. 

Para ouvir as músicas desses grandiosos mestres do Jazz, clique na foto!

Louis Armstrong – All of me                                                  Billie Holiday (Lady Day) – Blue Moon
https://www.youtube.com/watch?v=4BSu-0bMaSQ
https://www.youtube.com/watch?v=9LOB_I7sgoI 

Ella Fitzgerald – Summertime                                                  Nat King Cole – Smile
https://www.youtube.com/watch?v=1TvUYSFRItohttps://www.youtube.com/watch?v=u2bigf337aU




Ouça outros músicos desse grande estilo aqui!

terça-feira, 29 de abril de 2014

Personalidade do Mês: Charles Baudelaire



por Tathy Zimmermann

Depois desse período meditativo e de reinícios que a Páscoa deveria ser, ou após todos os chocolates, o mês de abril chegou ao fim e com ele, nossa homenagem à personalidade do mês.
Seu aniversário foi no começo do mês e o escolhi por ser uma grande leitora de seus poemas (mesmo não gostando muito de poesia). O convidado para soprar as velinhas é nada mais nada menos do que o dândi, o flâneur, o poeta boêmio: Baudelaire.
 por Georges Rochegrosse e Eugène Decisy
Charles-Pierre Baudelaire nasceu em Paris, no dia 9 de abril de 1821. Sua infância e adolescência foram atormentadas em diversas desavenças familiares que seriam o marco de sua rebeldia contra as convenções sociais e contra a frivolidade literária, sobretudo na área da poesia.
Aos 16 anos, Baudelaire ficou órfão de pai, e o ódio nutrido contra o segundo marido de sua mãe, o general Aupick, fez com que abandonasse os estudos em Lyon para fugir para a Índia. Ao retornar a França, em 1848, o jovem participou ativamente do movimento que ficou conhecido como Primavera dos Povos, em Paris os revoltosos conseguiram depor o rei Luís Filipe e instalar uma república.
Após isso, Baudelaire instalou-se em Paris, frequentando os salões aristocráticos e artísticos, levando uma vida boêmia e gastando suas posses. Sua vida foi tão repleta de gastos e dívidas que ele foi obrigado judicialmente pela sua família a aceitar um tutor para cuidar de seus bens. Acabou envolvendo-se romanticamente com a cortesã Apollonie Sabatier, e com as atrizes Marie Daubrun e Jeanne Duval, uma mulata por quem era apaixonado e para quem dedicou o ciclo de poemas “Vênus Negra”.
Em 1847, lançou “La Fanfarlo”, seu único romance, que é na realidade uma novela autobiográfica. Passou dez anos publicando poemas em jornais e revistas até que, em 1857, publicou o famoso e controverso “As Flores do Mal” (Les Fleurs du Mal). Esta obra rendeu-lhe um processo pelo tribunal correcional do Sena, uma multa por atentar à moral e aos bons costumes, além de ser obrigado a retirar seis poemas (poesies damnées) do volume original, sendo publicado na íntegra apenas em edições póstumas, em 1911. Todos os demais envolvidos com o livro foram processados por obscenidade e blasfêmia.
Tanto As Flores do Mal como Pequenos Poemas em Prosa (Petits Poèmes en Prose, que depois seria intitulado Lê Spleen de Paris) foram publicados em fascículos ou em partes em diversas revistas desde 1861, e são considerados importantes por introduzir novos elementos na linguagem poética, abordando reflexões existenciais, fundindo os opostos como o sublime e o grotesco, e explorando as analogias ocultas do universo.
De 1852 a 1865, Baudelaire traduziu os textos do poeta e contista norte-americano Edgar Allan Poe, de quem se tornou um defensor entusiasmado e grande leitor já no final da década de 1840. Também escreveu ensaios sobre literatura e crítica de arte. Ele foi alvo da hostilidade da imprensa, que o julgava libertino, promíscuo, obsceno e um subproduto degenerado do romantismo. Porém, sua carreira foi admirada e elogiada por Vitor Hugo, Gustave Flaubert, Arthur Rimbaud e Paul Verlaine.
Considerado um dos maiores poetas franceses de todos os tempos, seus poemas são densos, profundos, melancólicos, críticos, confessionais, ácidos, duros e até cruéis. Alguns o consideram um antecessor do parnasianismo, ou um romântico exacerbado. Pioneiro da linguagem moderna, impôs à realidade uma submissão lírica. Seu talento e genialidade só foram devidamente reconhecidos após sua morte.
Aos 46 anos de idade, Baudelaire morreu nos braços de sua mãe, após uma vida desregrada e repleta de tribulações. Alguns dizem que ele morreu de uma doença nervosa. Sífilis? Vício em haxixe? Bebedeiras? O que se sabe é que o autor influenciou direta ou indiretamente a poesia moderna e tornou-se um ícone da literatura.

Um trecho do poema *Spleen XV, meu favorito, para você conhecer um pouquinho ou para se deleitar, caso já conheça.


Sou como o pobre rei de algum país chuvoso,
Rico, mas incapaz, moço, e no entanto idoso.
Que as lisonjas dos preceptores desprezando,
Vai com seus animais, com seus cães se enfadando.
Nada o pode alegrar, nem caça, nem falcão,
Nem o povo morrendo em frente do balcão.
Do jogral favorito a grotesca balada
Não mais lhe desenruga a fronte acabrunhada

* Em francês, o termo spleen representa o estado de tristeza pensativa ou melancolia.
 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Miliopã com Gengibirra: Filme da vez...






Mistérios da Carne foi adaptado do livro homônimo do escritor Scott Haim. Ele conta a história de Brian (Brady Corbet, de Melancolia e Aos Treze) que, aos 8 anos, perdeu 5 minutos de sua vida. Ele somente se lembra de acordar na frente de sua casa com o nariz sangrando. Após o incidente ele passa a ter medo do escuro, a urinar na cama e a ter pesadelos todas as noites. 

Dez anos depois, ele acredita ter sido abduzido por alienígenas. Sua única certeza é a de que havia outro garoto com ele: Neil McComick (Joseph Gordon-Levitt, de 3rd Rock from the Sun e (500) Dias com Ela). Neil é o total oposto de Brian: confiante, hiperssexualizado e extremamente entediado da vida de cidade pequena. Quando Brian procura por Neil na tentativa de ter suas lembranças de volta, eles descobrem que a verdade pode machucar muito, mas também pode libertar.

Um dos temas abordado pelo filme é pedofilia, portanto, não recomendo para os fracos de estômago. Ele é um filme forte e visceral. Os personagens são reais e, alguns deles, a sensação é de que precisam ser abraçados e protegidos do mundo. As atuações estão espetaculares e o roteiro muito bem escrito. Realmente dá pra se perder no filme. Ainda não tive a oportunidade de ler o livro, mas planejo fazê-lo em breve. 

Uma coisa apenas: apesar de nunca ter me sentido tão suja na vida quanto depois de ter visto esse filme (especialmente a segunda cena), recomendo.

FICHA TÉCNICA:
Mysterious Skin
Gênero/Duração: Drama - 99 min.
País de Origem/Ano: EUA/Holanda/2004
Direção: Gregg Araki
Roteiro: Gregg Araki, baseado no livro de Scott Heim 
Mais informações em: IMDB e Rotten Tomatoes




Trailer (sem legendas)