por Kelvin Yamaguti
Obra escolhida para o Desafio Literário de Fevereiro
Autor: Haruki Murakami
Editora: AlfaguaraAutor: Haruki Murakami
Ano: 2013
páginas: 472
Em entrevista concedida ao Jornal The Guardian, em 2009, Haruki Murakami afirmou que tinha apenas
duas coisas em mente quando começou a escrever 1Q84: a primeira, que o livro
contaria a história de um homem e uma mulher buscando um ao outro. A segunda,
que ele faria desta simples história a mais longa e complexa possível. Posso
dizer que ele foi bastante fiel às suas premissas.
A narrativa de 1Q84 orbita em torno de dois
personagens principais: Tengo, um professor de matemática de um curso
pré-vestibular e aspirante a escritor e Aomame, instrutora física dotada de
exímia habilidade em matar sem deixar vestígios.
A nota romântica
entre os dois personagens é pueril, mas acaba convencendo ao final das mais de 1200
páginas da trilogia. A simplicidade da imagem de Tengo e Aomame de mãos dadas
na escola é a coluna vertebral que sustenta todo o cerne romântico da obra.

De outro lado, é nos apresentada a história
de Tengo Kawana, que é “cooptado” por seu amigo e produtor literário Komatsu
para reescrever, na condição de ghost
writer, o manuscrito de “A Crisálida
de Ar“ submetido a um concurso literário por Fukaeri, uma garota de 17
anos. Para Komatsu seria a oportunidade perfeita de, ao mesmo tempo, movimentar
o estagnado mercado literário japonês da década de 80 e de exercitar a escrita
de Tengo.
Aos poucos os personagens passam a notar
algumas alterações que sugerem que a Tóquio de 1984 em que viviam não é mais a
mesma. Aomame, a despeito de ser adepta à leitura diária de jornais, sente como
se tivesse perdido as grandes notícias dos últimos dois anos. Tengo percebe que
aquilo que ele acredita ser a realidade está cada vez mais parecida com a
fantasia estruturada pelo livro de Fukaeri. E talvez o sinal mais contundente
de que há algo acontecendo, seja a existência de duas luas no céu: uma comum,
amarelada, e a outra menor e esverdeada. Fatos que passam a por em dúvida até
mesmo a sanidade dos personagens.As histórias de Tengo e Aomame surgem como
assíntotas que parecem que nunca vão se tocar, mas a maestria com que Murakami
conduz a história logo faz com que as duas histórias se entrelacem e passem a
fazer sentido juntas.
Murakami
parte do prosaico, e erige um mundo paralelo, cópia do mundo original, dominado
por uma sociedade secreta religiosa, habitado por seres pequeninos de poderes
sobrenaturais e onde pairam duas luas no céu. Talvez seja essa capacidade de
transformar o comum em extraordinário e fantástico aliado à acessibilidade de
suas obras que tornem o escritor japonês popular entre os leitores jovens.
Li
as mais variadas críticas sobre “1Q84” e talvez a mais recorrente e cruel seja
a de que Murakami criou um mundo de possibilidades e acabou encerrando a
história pela via mais trivial, sem responder às dúvidas que ele criou no
leitor. Discordo. Se nem a realidade faz sentido total para nós, porque uma
obra de fantasia deveria ser “redonda” e auto explicável?
Obs¹.: Aparentemente o “Q” de
“1Q84” seja referência à pronúncia do número nove em japonês: kyū
(kyuu)
Obs².: Apesar do título, o mundo
fantasioso de Murakami não traz a distopia de George Orwell como centro de
gravidade.
Obs³.: Murakami tem sido o
Leonardo Di Caprio da literatura. Ano
passado ele bateu na trave do Nobel de Literatura. Agora é esperar e ver se
neste ano Murakami é agraciado com o Nobel e Di Caprio leva o Oscar pra casa.
Afinal, já está mais do que na hora!
Um comentário:
Gostei de sua resenha, muito bem escrita e intrigante. Acabou me deixando muito interessada para ler este livro.
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